Tudo o que nasce morre, mas muitas vezes, antes de morrer, é inúmeras vezes declarado defunto.
Como já vi inúmeras vezes, com os blogs é muito parecido. Já foram declarados mortos vezes sem conta… mas de que falam aqueles que passam tais atentados?
O Weblog
Antes de ser aquilo que é hoje, o blog era o Weblog, um registo (log) das actividades ou pensamentos de quem o escrevia. Como que um diário online, publico, que todos podiam ler.
Os primeiros eram bastante artesanais, como toda a web naqueles dias, mas aos poucos foram aparecendo ferramentas e sites que permitiam tornar a gestão de tais diários mais simples.
A principal razão porque hoje existem tantas ferramentas e tantos sites que permitem criar blogs de forma simples e rápida é o seu limitado leque de funcionalidades. Um blog é um registo de textos, ordenados por ordem anti-cronológica (não é por ordem cronológica, pois o primeiro a aparecer é o mais recente).
Dependendo das implementações, categorias ou tags foram adicionadas a esta funcionamento básico, nalguns casos arquivos. Mas tudo isto são apenas formas de apresentar esta informação. A gestão dos blogs é normalmente feita em apenas duas ou três páginas, e depois, dependendo da complexidade das funcionalidade adicionais, podem existir várias outras para gerir os aspectos secundários do blog, como os templates, os widget ou plugins adicionais, etc.
blogging e problogging
Como sempre aconteceu, os diários têm as mais diversas utilizações. Um caderno em branco é um caderno em branco, e nele cada um escreve o que quer. No tempo dos diários em papel, umas pessoas escreviam as suas aventuras e desventuras, outras escreviam os dados que consideravam importantes, outras ainda faziam complexos cadernos de apontamentos dedicados a um único tema.
Hoje isso continua a acontecer. Com a diferença de que os cadernos em branco dos novos tempos são mais simples de disponibilizar a qualquer pessoa que neles tenha interesse. Um blog como o Web a Sério ou o ProBlogger podem ser lidos de qualquer parte do planeta. O mesmo se passa com os diários mais pessoais.
A grande diferença começa quando se analisa as comunidades que se criam à volta de cada um destes tipos de blogs. Blogs mais focados num único tema tendem a criar à sua volta uma comunidade de pessoas que têm interesse nessa área especifica, e isso faz desses blogs uma excelente plataforma para divulgar produtos e serviços destinados a esse tipo de pessoas, e isso, por sua vez, faz com que seja possível rentabilizar este tipo de blogs.
Mas também isto não é novidade dos mundo online. Afinal de contas, o que são os livros escolares, se não uma evolução de cadernos de apontamentos? Somos todos demasiado jovens para nos recordarmos das sebentas da faculdade? Ou somos já demasiado velhos e esquecemo-nos delas?
Durante muito tempo o conhecimento era transmitido de mestres para os seus discípulos em parte verbalmente, em parte permitindo-lhes copiar partes dos seus próprios diários e cadernos de apontamentos.
Com o aparecimento da imprensa, os livros tornaram-se numa versão industrial dessas mesmas sebentas, desses diários e cadernos de apontamentos. Com o tempo a industria dos livros cresceu de forma a tornar um livro num produto fechado, no qual já não reconhecemos a sua origem interior, a primeira razão porque os primeiros cadernos de apontamentos foram criados.
A morte anunciada
A morte anunciada é um mito recorrente na nossa cultura. Refere-se constantemente a morte de inúmeras coisas, mas essas são as coisas que normalmente demoram mais tempo a morrer. Há vinte anos, o papel era considerado um produto com os dias contados. Tinha-se percebido que os computadores iriam invadir o dia a dia de cada um de nós, e em consequência disso o papel deixaria de ser necessário, porque toda a informação estaria disponível num monitor próximo de nós.
A Internet, a Web 1.0, o Petróleo, e até os weblogs (aqueles que deram origem ao termo blog) foram considerados extintos. No entanto, todos eles continuam por aí.
Mas os blogs, aqueles que são apenas registos de pensamentos soltos que passam pela cabeça dos seus autores, esses podem até mudar de forma, os temas podem variar, podem voltar a ser transferidos, da web para uma qualquer outra plataforma que entretanto surja, mas sempre existirão. Afinal de contas, enquanto houver pessoas que queiram partilhar os seus pensamentos (mais ou menos) íntimos com os outros, os diários continuaram a existir.
A ferramenta
E em relação aos software hoje existentes para criar blogs, e que são utilizados para inúmeros fins. A que se deve o seu sucesso?
Um software para gerir um blog, é uma ferramenta mais ou menos simples de implementar (dependendo das funcionalidades não essenciais, claro). No fundo, para gerir um blog, é necessária uma página que permita adicionar novos conteúdos, uma para listar os existentes e outra para editar um conteúdo pré-existente. Muitas vezes a primeira e a terceira são a mesma.
Depois são necessárias as páginas necessárias para mostrar esses conteudos, como sejam as listagens ou página do conteúdo.
Mas, no final, trata-se de um software razoavelmente simples. Num blog simples não se espera que seja possível alterar o comportamento das listagens, nem que as listagens tenham comportamentos diferentes consoante os utilizadores ou outros factores.
Na maioria dos casos espera-se que as ferramentas permitam alterar o aspecto global do blog, mas não se espera que seja possível qualquer utilizador ter a capacidade para fazer essa alteração. Muitas das plataformas de blogs implicam conhecimentos técnicos que colocam a fasquia acima da médias dos utilizadores dessa mesma plataforma, e por isso disponibilizam um conjunto diverso de themes (ou templates) que qualquer utilizador consegue facilmente escolher, e com isso dão alguma capacidade de escolha aos seus utilizadores sem implicar desenvolvimentos demasiado complexos na ferramenta.
O Sucesso
Na minha prespectiva, as principais razões do sucesso que os blogs tiveram ao longo dos últimos anos, e irão continuar a ter, pelo menos por enquanto são duas, a simplicidade de implementar um software de blog simples e a baixa complexidade de entrada.
Simplicidade de implementação
Implementar as funcionalidades básicas de um blog é uma tarefa que qualquer programador web consegue levar a bom termo, mesmo sem muita experiência, e em relativamente pouco tempo. Claro que á medida que mais funcionalidades são adicionadas, mais tempo vai sendo dispendido.
Mas as funcionalidades básicas eram simples de implementar.
Com o tempo inúmeras ferramentas foram surgindo, e foram sendo adoptadas por cada vez mais sites que permitem aos seus utilizadores criar os próprios blogs, bem como pelos bloggers que têm maiores conhecimentos e decidiram ser eles próprios a gerir os seus blogs, e ter com isso algumas vantagens sobre os outros.
Facilidade de adopção
Com apenas alguns cliques e a introdução de apenas meia duzia de informações (ou menos) é possível criar um novo blog, e começar a introduzir os primeiros conteúdos é igualmente simples. Escolher a imagem que está mais próxima do aspecto desejado para o nosso blog também não é complexo.
E em apenas alguns minutos qualquer utilizador pode criar o próprio blog. Acaba por ser mais simples e rápido do que ir à mercearia do bairro comprar um caderno em branco. E esta simplicidade é o grande segredo da adopção dos blogs como ferramenta de comunição de massas dos nossos tempos.
E, à medida que os utilizadores se vão tornando mais experientes, novas funcionalidades vão sendo adicionadas aos softwares de gestão de blogs, sempre mantendo a facilidade de utilização inicial, mantendo a curva de entrada baixa.
Blog – a solução final?
Mas são os blogs a solução final para a web? Penso que não são a solução final, e que nunca irá existir uma solução final. Mas são um dos muitos caminhos para uma plataforma web eficaz e eficiente.
À medida que a web e a informática em geral se tornam acessíveis e indispensáveis e cada vez mais pessoas, as ferramentas deverão ser cada vez mais simples de utilizar,e livres de erros.
A cada dia que passa aparecem mais ferramentas que resolvem pequenos problemas de forma simples e eficiente, sem tentar, mais uma vez, implementar todas as funcionalidades necessárias para criar um site muito complexo.
Penso que o futuro passará mais por pequenas ferramentas, simples de integrar, do que pelos gigantescos gestores de conteúdos que geriam a web há apenas alguns anos.